31 de ago. de 2012

Sheilla:.Futebol é a paixão nacional, não tem como competir

As inúmeras conquistas das seleções de vôlei nos últimos anos, aliadas aos recentes fracassos das seleções de futebol geraram uma discussão nas redes sociais logo após a Olimpíada de Londres: o Brasil, agora, passou a ser o país do vôlei, e não mais das bolas nos pés?. Na opinião de Sheilla, bicampeã dos Jogos (Pequim-2008 e Londres-2012), este ainda é um 'sonho' distante de acontecer.
A oposto, recém-contratada pelo Sollys/Nestlé para a disputa da próxima Superliga, vê o futebol como "paixão" do povo brasileiro, e, por isso, ainda acha difícil a comparação. "O dia que chegar perto, já vai ser bom para a gente", afirmou a jogadora, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Um dos destaques do Brasil na Olimpíada, Sheilla ainda falou sobre as críticas que o grupo sofreu no começo da campanha rumo ao bicampeonato, e que sentiu a seleção ser desrespeitada, e não apenas criticada.
Aos 29 anos, ela ainda não garante presença na próxima edição dos Jogos, em 2016, no Rio de Janeiro. "Vontade é claro que tenho, mas preciso ver como vou estar", declarou.
UOL Esporte: Você deixou a Unilever para jogar pelo maior rival, Sollys/Nestlé. Como está sendo a repercussão?
Sheilla Muitos torcedores vão me odiar, mas muitos vão me amar (risos). Brinquei que vou ser odiada, mas sempre fui bem recebida lá no Rio. O carinho é grande. Quando eu chegar lá, vai ter muita torcida contra, claro, mas a torcida aqui de Osasco é mais calorosa até que a de lá. (pausa). É diferente, sabe? No Rio eles são mais comportadores. Aqui gritam, falam, apoiam. É gostoso. Estou ansiosa para estrear.
UOL Esporte: Tem noção do tamanho dessa rivalidade? Guardadas às devidas proporções, é como se um jogador trocasse o São Paulo pelo Corinthians...
Sheilla Sim, sim. São tantas finais seguidas, né. É normal que crie essa rivalidade. Mas eu sou profissional, estou aqui para defender o Sollys do melhor jeito possível, dar o meu sangue. Quando as meninas ficaram sabendo que eu estava negociando, falavam para eu acertar logo. Fui muito bem recebida, é gostoso isso.
Sheilla foi apresentada na quarta-feira como atleta do Sollys/Nestlé, após duas temporadas na Unilever
UOL Esporte: O que te fez perceber que era hora de deixar a Unilever?
Sheilla Foi uma escolha profissional. Não é que era a hora, mas atleta pensa ano a ano. Eu não decidi deixar o Rio, eu decidi vir para o Sollys. São escolhas. Eu vinha muito para São Paulo quando jogava em São Caetano, Osasco é muito perto e tem tudo. Então, vai ser tranquila a adaptação.
UOL Esporte: Agora, falando sobre seleção. Já caiu a ficha do bicampeonato olímpico?
Sheilla É gostoso o reconhecimento que a gente está tendo. É gratificante, e aí você vê que tudo valeu a pena. Mesmo de folga, a agenda fica cheia de entrevistas, gravações. São muitos fãs agradecendo, falando que nós representamos bem o Brasil. É uma sensação gostosa, de dever cumprido.
UOL Esporte: Depois do bicampeonato em Londres, com tantos títulos da seleção masculina também, dá para dizer que hoje o Brasil é o país do vôlei?
Sheilla (Risos). Muita gente me pergunta isso, sabia? Sinceramente, eu gostaria que fosse o país do vôlei, mas é difícil, está longe. O Brasil não é o país do vôlei. É o país do futebol. Os nossos resultados estão melhores, mas ffutebol é paixão, é difícil competir. O dia que chegar perto, já vai ser bom para a gente.
UOL Esporte: Depois dois três primeiros jogos do Brasil na Olimpíada, muita gente criticou o time. Como você viu isso?
Sheilla Críticas sempre existem, não só na seleção. Quem está em evidência sempre é criticado, ainda mais quando é o Brasil. Mas a nossa seleção foi desrespeitada em alguns momentos, e eu fiquei magoada. O importante é que nem eu nem as meninas deixamos de acreditar que dava. Isso foi determinante. Independente das críticas, a gente sempre jogou nosso melhor.
UOL Esporte: As críticas, então, não te abalam?
Sheilla Não, imagina. Se me abalasse eu já tinha parado de jogar vôlei faz tempo. Já ouvi tanta coisa... Eu tenho que fazer o meu jogo em quadra e só. Olha só, depois do jogo da Rússia, quem criticou a gente no começo passou a acreditar, a dizer que dava! É assim mesmo...
UOL Esporte: Você, particularmente, pensa em disputar os Jogos de 2016, no Rio?
Sheilla Pensar no Rio eu penso. Mas tenho 29 anos e tenho que pensar ano a ano. Não quero estar lá só por estar. Sonho em disputar a Olimpíada no Brasil, estar com a família ao lado, os torcedores, amigos por perto. E ainda defender o título e ter a chance de ser tri. Vontade é claro que eu tenho, mas preciso ver como vou estar.
O grupo sentiu, mas não só o dela. Ela é querida por todas e uma excelente jogadora. Mas por outro lado foi bom para ela, que conseguiu zerar todas as lesões que vinha sentindo de joelho, ombro. Acho que nesse tempo ela nem pegou em bola. Ficou só tratando, fazendo físico e zerando as dores. Agora vai jogar em uma das melhores equipes do mundo (Fenerbahce, da Turquia) e vai dar muitas alegrias para os fãs dela, que são muitos.
UOL Esporte: Durante a Olimpíada, vocês chegaram a se falar?
Sheilla Ela sempre mandava mensagem, mandou forças depois do jogo da Coreia do Sul (derrota do Brasil por 3 sets a 0). Ela sabia que era um momento muito difícil para a gente. Mas eu sabia que nosso time ia crescer. Depois da vitória contra a China (na quarta rodada), falei ali para a imprensa, em inglês, que a gente ia ser ouro se passasse daquela fase. E fui muito criticada por isso. Até pelo Facebook recebi mensagem dizendo que eu estava viajando, que o Brasil já era na Olimpíada. Mas eu estava certa (risos).
UOL Esporte: Para encerrar: você se considera a melhor jogadora do mundo atualmente?
Sheilla Nossa, nunca vou me considerar a melhor do mundo. Nem da minha posição. Sou uma das grandes atacantes, sim. Mas todo mundo fala e pergunta isso pois eu fui titular nas duas últimas Olimpíadas, e fomos campeãs. Eu só quero estar na minha melhor forma possível para ajudar a minha equipe nas competições que vamos disputar. Só isso.

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